Falar açoriano?!
“Fala açoriano”, a pior coisa que me podem pedir. É que nesta altura do campeonato a malta do continente já era para perceber que cada ilha tem a sua pronúncia e que, havendo nove ilhas, há nove maneiras de falar diferentes, mas não está fácil. No entanto, como bom terceirense que sou, hoje vou criar aqui uma pequena história, sem grande sentido, utilizando expressões típicas da minha ilha. Assim é mais fácil divulgar o blog e para animar a malta. Sempre que me pedirem para falar “açoriano”, mando virem cá – isto é que vai ser ter visualizações.
Ah! Calculando que muitos continentais possam não entender a história, sou gentil ao ponto de deixar-vos também a sua tradução.
Então é qualquer coisa assim:
“A semana passada fui passá dois dias à Terceira. Há hora que o avião chegou já não havia carres da carreira, por isso apanhei um carre de praça pra casa. Disse ao chofer que era estranhe com tante turisme na ilha na havê transportes e ele respondeu-me: «Ó, apanhá carreira a esta hora? Tás bem amanhade».
Quande cheguei a casa mê pai tava vestide cas suas alvarozes, cmé costume, e minha mãe tinha uma pana de favas em cima da mesa pá gente comê. Pus os gadanhos ao garfe e foi um tal aviá, ca barriga antão na se brinca. A mei do jantá, a nisca de gente de mê sobrim vei pedi alfaces a nossa casa, tá cada vez mais atoleimado – pudera, a vê tante aqueles macacos violentes na talavisão. Enjoa que tomba, na lava os dentes e é só comê gamas, os pais já na lhe cortam aquela gadelha faz más de dois meses, querede – qualquer dia até lhe cai a blica com precisão de água.
Depois de jantá tomei duche e fui pá cama. Tava cansade que era coisa séria.”
Tradução:
“A semana passada fui passar dois dias à Terceira (Açores). Há hora que o avião chegou já não havia autocarros, por isso apanhei um táxi para casa. Disse ao chofer (ou taxista) que era estranho com tanto turismo na ilha não haver transportes e ele respondeu-me: «Ó, apanhar autocarro a esta hora? Estás tramado».
Quando cheguei a casa o meu pai estava vestido com as suas jardineiras, como é costume, e a minha mãe tinha um alguidar de favas em cima da mesa para comermos. Pus os dedos ao garfo e foi um tal aviar, com a barriga então não se brinca. A meio do jantar o meu pequeno sobrinho veio pedir alfaces a nossa casa, está cada vez mais parvo – pudera, a ver tanto aqueles desenhos animados violentos na televisão. Enjoa imenso, não lava os dentes e só come pastilhas, os pais já não lhe cortam o cabelo há mais de dois meses, credo – qualquer dia até lhe cai o pénis com falta de ser lavado.
Depois de jantar tomei duche e fui para a cama. Estava extremamente cansado.”
Os sotaques açorianos até podiam ser outras línguas, mas são bem portugueses, embora um bom lisboeta ou mesmo outro continental possa numa frase não entender rigorosamente nada. Quando forem aos Açores levem esta curta história e a sua tradução convosco, pode-vos ser útil. A sério, podem precisar de ir cortar o cabelo (gadelha), ou apanhar um táxi (carre de praça), ou outra coisa qualquer e convém que saibam dizer as coisas pelos seus verdadeiros nomes. Não que se falarem o português “correto” não vos entendam, mas porque podem não entender o que vos dizem.