Fogaça de Alcochete
Nos primeiros tempos em Lisboa optava por fazer boa parte das compras para casa na mercearia do senhor Zé e da Dona Maria de Jesus, a melhor do país. O atendimento personalizado e a simpatia do comércio tradicional é algo que nenhuma grande superfície consegue oferecer. Quando ainda não estava bem familiarizado com certos produtos, perguntava-lhes o que eram e de onde vinham e era sempre esclarecido com a resposta mais completa e detalhada possível.
Um dia cheguei à mercearia quando lá estava fornecedora das fogaças a deixar uma dose fresquinha e a Dona Maria propôs-me trazer uma para experimentar. Explicou-me que se tratava de um doce originário de Alcochete produzido com base em farinha de trigo, manteiga e ovo e com um toque forte de canela e limão. Fiquei convencido e trouxe, mas quando cheguei a casa quis saber da sua história, porque pela comida podemos descobrir a cultura de um povo. Descobri que é um bolo quinhentista que tem origem no cumprimento de uma promessa dos barqueiros de Alcochete à Senhora da Atalaia depois de terem saído salvos de uma tempestade marítima.
Hoje, nem tanto, mas contínuo a ir à mercearia fazer algumas compras específicas, como é o caso das castanhas, das clementinas do Algarve e claro da fogaça de Alcochete. Lá de tempos a tempos vai uma. É bom, mais ou menos barato, e alimenta – tudo o que um estudante que vive longe de casa precisa, portanto.